segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Responsabilidade social - empresas apostam na educação de jovens


A educação é, de longe, o foco principal do investimento social feito por empresas socialmente responsáveis no Brasil. E dentro dela, os ensinos fundamental e médio têm recebido atenção prioritária. Censo recente do grupo de Institutos,Fundações e Empresas (GIFE),revela que 80% dos seus 101 associados investem em ações como capacitação de professores,tecnologias sociais e complementação escolar, o que corresponde a R$ 300 milhõesanuais colocados na melhoria da qualidade da escola para crianças de 7 a 14 anos e jovens
até 24 anos. “Há hoje um consenso de que a educação constitui um dos mais importantes instrumentos para o desenvolvimento com justiça social e que representa a causa de muitos dos nossos problemas sociais. Atuar na causa e não no sintoma é traço diferencial do investimento social privado em relação à filantropia", afirma Fernando Rossetti, secretário-geral do GIFE.

Na avaliação do executivo, os investimentos geralmente buscam complementar o ensino das escolas públicas ou colaborar para qeu funcionem melhor, com novas tecnologias, métodos e sistemas de gestão mais eficazes. Nesse sentido, se mostram sintonizados com um quadro que se caracteriza por dificuldades de acesso, permanência e sucesso escolar. A ênfase dos institutos e fundações no ensino fundamental, segundo Rossetti, acompanha o foco adotado pelas principais políticas públicas de educação. E o investimento no público jovem reflete o interesse por um segmento visto como vulnerável, que sofre na pele o desemprego e a violência.

BOAS RAZÕES PARA INVESTIR
Segundo Rossetti, uma segunda razão para o crscente aumento dos investimentos de empresas em educação se deve à constatação de que anda em falta o capital humano qualificado de que elas dependem para atuar. "O sistema público não está fornecendo profissionais capazes de assegurar o bom nível de competitividade das empress brasileiras em um mundo globalizado", diz. A diretora-presidente da ONG CENPEC, Maria Alice Setúbal, especializada em educação, concorda. "As empresas sabem que para o sucesso de seus negócios precisam de gente qualificada, o que só vai ocorrer se crianças e jovens tiverem oportunidades educacionais de qualidade", afirma.

Para uma empresa, a má formação escolar compromete, pro exemplo, a capacidade de o funcionário compreender um manual de instruções, normas de qualidade e de segurança ou de acompanhar cursos de treinamento. "Há várias formas de uma empresa colaborar com a educação. Pode investir em projetos específicos de tecnologia, artes ou ciencias ou até mesmo apoiar uma escola próxima. Vale destacar, nesse caso, que esse apoio deve se dar a partir das necessidades da escola e de forma respeitosa à sua cultura. De nada adianta chegar impondo novos modelos de gestão que deram certo no mercado sem levar em conta a realidade da escola. Recursos para reformas, construção de laboratórios e bibliotecas também são sempre bem-vindos", completa Maria Alice.

Prova de que o tema dissemina nas empresas é o grande número de campanhas, programas e pactos regionais e nacionais de educação comandados por líderes empresariais. Se antes os investimentos privados eram pontuais, agora decorrem de alianças estratégicas. O Compromisso Todos Pela Educação é uma dessas iniciativas. Lançado em setembro de 2006, o movimento criado por um grupo que tem, entre outros, Jorge Gerdau Johannpeter Grupo Gerdau) e Milú Vilella (acionista do Banco Itaú ), estabeleceu cinco metas para 2022 e trabalha firme para tornar a educação uma espécie de paixão nacional. “Nosso movimento não encontraria eco se não houvesse um contexto favorável. Pela primeira vez, gestores públicos, organizações da sociedade civil e empresas estão alinhados em relação à necessidade de transformar a educação em política de Estado. Hoje compreende-se que melhorar a educação pode produzir impacto positivo sobre o crescimento econômico, geração de renda, segurança pública e cidadania”, afirma Priscila Cruz, coordenadora executiva do Todos Pela Educação.

Segundo Priscila, o movimento não tem a pretensão de dizer em quais projetos educacionais as empresas devem investir. Apenas orienta que o façam com foco no resultado para o aluno. “O grave quadro da educação brasileira não permite desperdício de recursos em ações que não gerem melhoria da qualidade da educação. As estratégias de investimento privado podem ser diferentes. Mas o horizonte deve ser comum, tendo como objetivo mais elevado tudo aquilo que promova a aprendizagem.” Para a executiva, ações voltadas para a formação de professores, reforço escolar e retenção de alunos na escola são muito necessárias. As de gestão escolartambém. Se estivesse no comando de uma fundação, Priscila concentraria os investimentos em alfabetização, período que oferece às crianças as condições necessárias para que
permaneçam, com sucesso, na escola. “Hoje, no Brasil, apenas 4,8% das crianças de quarta série estão plenamente alfabetizadas. Na oitava série, não chegam a 10%”, conclui.

APOIO EM GESTÃO
Estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado em dezembro de 2006, mostra que as escolas com melhor desempenho na Prova Brasil do Ministério da Educação foram aquelas em que a gestão incorporou regras simples, como escolher diretores de forma criteriosa, acompanhar o aluno individualmente e combater a evasão escolar, atuando junto à família. Por isso,atributos típicos do setor privado,como visão de planejamento e ênfase em eficiência e eficácia, aliados ao desenvolvimento de novas alternativas pedagógicas, podem fazer a diferença em favor da qualidade das ações educacionais do País e inf luenciar políticas públicas. “Às empresas cabe o papel de apoiar o setor público, acompanhá-lo e cobrá-lo. É uma relação de parceria, para a qual contribuímos com nossa liberdade de criar novas soluções”, diz Antonio Matias, vice-presidente da Fundação Itaú Social, que investe R$ 40 milhões anuais em educação. Claudia Calais, coordenadora da Fundação Bunge, concorda. “Não precisamos inventar a roda, temos que fazê-la girar adequadamente. Deve existir uma relação de parceria e de compartilhamento de recursos com os governos”, afirma.

Denise Aguiar, diretora da Fundação Bradesco, tem uma opinião complementar. “Não adianta esperar o ministério resolver tudo. O governo precisa ampliar o valor do investimento em educação saltando dos atuais 4% para pelo menos 7% do PIB. Nós, fundações, temos que fazer a nossa parte, investindo o melhor de nossos recursos em experiências educacionais que sirvam de exemplo e contaminem positivamente todo o sistema público”, diz ela, que administra 40 escolas próprias em todo o Brasil, mais de 108 mil alunos e R$ 183 milhões por ano.

Beatriz Johannpeter, diretora do Instituto Gerdau, acha que investimentos em ensino de qualidade são os de melhor custo-benefício porque melhoram a vida de todos. “Ganhamos os indivíduos, a sociedade e também as empresas, que passam a ser mais competitivas no mercado global”, aposta a executiva do instituto que investe em projetos de gestão de qualidade, cultura, esporte, educação ambiental e apoio ao ensino formal. Em 2006, apenas as atividades focadas em melhoria da qualidade de ensino consumiram R$ 7,8 milhões do Grupo Gerdau.

Para algumas empresas com atuação capilarizada em vários municípios, como é o caso da Companhia Vale do Rio Doce, a educação exerce papel decisivo no processo de desenvolvimento local sustentável. Além de promover a cidadania, mobiliza as comunidades, reforça o tecido social e prepara a força de trabalho, gerando uma melhor condição de vida para todos. “A elevação do nível educacional influencia a produtividade, a empregabilidade e o empreendedorismo”, diz Olinta Cardoso, diretora da Fundação Vale do Rio Doce, que em 2007 planeja investir mais de R$ 39 milhões em diferentes projetos voltados para a melhoria da qualidade educacional de escolas públicas, alfabetização de adultos, aceleração de aprendizagem,inclusão digital e formação profissional. Nos últimos anos, cerca de 1,7 mil jovens participaram dos programas de capacitação da FVRD. Destes, 1,4 mil foram efetivados na empresa. “Nossos projetos foram desenhados nos locais a partir da realidade, da cultura e da identidade dos 5,5 mil municípios nos quais atuamos e com os quais estabelecemos um compromisso de desenvolvimento responsável. Como temos um compromisso de longo prazo, precisamos pensar algumas gerações adiante. A educação é a base para isso”, completa.

* Matéria de autoria de Ricardo Voltolini, da Revista Idéia Social, publicada no caderno Responsabilidade Social, da Gazeta Mercantil em 10/07/2007.

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